Picapes derivadas de automóveis de passeio sempre causaram estranhamento quando, em seu mercado, elas são as pioneiras no segmento. Não foi diferente com os americanos em 1957, com o lançamento da Ford Ranchero, uma picape baseada no Fairlane cupê. Com isso, a GM se viu obrigada a lançar um concorrente no segmento, pois com certeza ela não deixaria a Ford lucrar sozinha, caso fosse bem-sucedida. Baseado no Impala (e com a parte frontal igual), era lançada em 1959 a picape El Camino. A picape foi projetada para ter o conforto de um sedã, coisa importante para os consumidores da época, o que incluía interior bem parecido com outros Chevrolet de então. O design exterior seguia o estilo daquela década: frente longa, larga e baixa, caixas de roda irregulares, dando ideia de movimento, parabrisas curvo e uma longa traseira aberta, com uma caçamba de 934 l (embora só pudesse levar até 520 kg, incluindo os passageiros) e lanternas em forma de gota. Tinha intermináveis 5,3 m de comprimento e 3,02 m de entre-eixos.
A mecânica também era a mesma do Impala, o que incluía desde a suspensão, independente na dianteira e eixo de torção na traseira, até a motorização. Nesse último quesito, as opções iam desde um 6 em linha de 235 pol³ (3,9 litros) até um V8 big-block de 348 pol³ (5,7 l), passando por um V8 small-block de 283 pol³ (4,6 l). O V8 mais potente, obviamente o 348, produzia 352 cv brutos (medida padrão utilizada até 1971; nesse padrão de medida, a aferição de potência é feita sem alguns periféricos que consomem potência, mas o motor não pode funcionar sem eles; a unidade de medida oficial é bhp, encontrada em alguns artigos em inglês). Os motores podiam ser equipados com câmbio manual de 3 ou 4 marchas, ou automático, de 2 ou 3 marchas, sempre com tração traseira. De acordo com testes feitos em 1959, a versão 348 V8 com carburação tripla chegava aos 209 km/h e atingia os 96 km/h (60 mph) em sete segundos.
Em 1960, a picape ganhava uma pequena reestilização, deixando-a mais discreta. Recolhendo menos impostos que carros de passeio (e, consequentemente, com um preço mais baixo), a El Camino logo virou moda. Muitos projetistas da marca logo a adotaram como carro de uso pessoal, e muitas dessas picapes foram utilizadas em modificações e projetos de customizadores da Califórnia. Entretanto, as vendas foram baixas, com 22 mil unidades no primeiro ano (considerando-se o número de 1,5 milhão de carros vendidos pela marca no mesmo período) e 14 mil no segundo ano, o nome El Camino era aposentado naquele ano.
Dentre as opções de motorização, estavam dois motores 6 em linha, a 194, com 3.2 l e 121 cv, e a 230, de 3.8 l e 157 cv (o mesmo utilizado pelo Opala em seu lançamento); e um V8, o 283, com carburador duplo e 197 cv (ou 223 cv, se equipado com carburador quádruplo). Ainda naquele ano, a El Camino ganhava outra opção de V8, de 327 pol³ e 253 cv, mas podia ganhar mais 50 cv se equipado com carburador quádruplo, maior taxa de compressão e sistema duplo de escapamento.
Em 1966, a El Camino ganhava uma leve reestilização, que incluía faróis mais pronunciados, algumas mudanças no interior e um novo V8, de 396 pol³, que gerava entre 329 e 380 cv, dependendo da configuração escolhida.
Em 1968, a picape sofria mais modificações, seguindo as novidades do Chevelle daquele ano. Dentre as novidades externas, estavam nova grade, faróis, parachoque dianteiro, tampa traseira, lanternas e coluna central mais larga. No interior, novo painel, mais alto, com 3 mostradores à frente do motorista. Já dentre as novidades mecânicas os destaques eram o novo câmbio Hydramatic 300, de 3 marchas, coluna de direção deformável em caso de impacto, freios dianteiros à disco e novos amortecedores, com bolsas de ar que se adaptam à carga a ser transportada para deixar a carroceria nivelada (sistema parecido com o que o Kadett adotou 20 anos depois).
Mas a maior novidade daquele ano foi a versão SS 396, a versão mais esportiva da linha. Essa versão era equipada com o motor 396 na configuração mais potente, e também possuía adereços estéticos, como entradas de ar falsas no capô e frente mais esportiva. Dois anos depois, o motor 396 da SS era trocado por um V8 402 (o Turbo Jet 400) de 456 cv, suficientes para que a El Camino faça o quarto de milha em 13 s. Apesar da troca de motor, os emblemas da carroceria continuavam a indicar erroneamente um motor 396.
E chegava o ano de 1971, quando estourou a crise do petróleo. O governo americano ordenou a retirada do chumbo tetraetila da gasolina para uma menor emissão de poluentes, o que aumentou o preço do combustível e derrubou a sua octanagem, fato que também obrigou as montadoras a diminuírem a taxa de compressão dos motores, derrubando a potência de todos os motores da indústria. No ano seguinte, o governo americano também adotou o sistema de medição líquido, o que diminuiu o valor nominal da potência dos carros. Tudo isso mais a pressão das seguradoras contra carros esportivos, e chegamos ao fim da era dos grandes e potentes muscle.
Os motores da El Camino, obviamente, também perderam potência. O motor 250 passou a gerar 110 cv; o 350 V8, 175 cv; e o Turbo Jet 400, 240 cv. Um novo motor também foi adicionado à linha, um 454 (7.45 l), mas não desenvolvia mais que 270 cv. Ainda nesse ano, a GMC lançava um clone da El Camino, a Sprint.
Em 1973, a El Camino mudava novamente, acompanhando o Chevelle. A picape estava maior, mais leve e com um visual mais discreto, com um parachoque cromado, faróis simples e grade levemente quadriculada, capô longo, lateral limpa, coluna central com caimento que lembrava o de um cupê, e lanternas na parachoque traseiro. Haviam dois níveis de acabamento, que acompanhava as versões do Chevelle: Malibu e Malibu Classic. Na versão mais cara, a cabine era mais luxuosa, com bancos em tecido ou vinil com apoio de braço central e acabamento imitando madeira no painel. Apesar da perda da esportividade, a El Camino foi um dos únicos modelos a manter a versão SS, mesmo como um pacote opcional, disponível com qualquer motor da linha, mas sempre com câmbio automático de 3 marchas.
Em 1974, a Pontiac criou um conceito da El Camino com a frente do Trans Am e rodas esportivas, que acabou virando um opcional do GMC Sprint. Ainda naquele ano, o Turbo Jet 400 saía de linha, e todos os carros ganhavam catalisador para controlar a emissão de poluentes, que diminuiu ainda mais a potência dos carros.
Até o ano de 1978, a El Camino apenas ganhou mais peso, devido à reforços estruturais, e faróis retangulares. Em 1978, a El Camino passava a ser baseada no Chevrolet Malibu, e ganhou as linhas retas que predominariam nos carros da próxima década. Eram 3 opções de acabamento: básico, SS e Conquista, e a GM oferecia opcionais como ar-condicionado, vidros e travas elétricas, rádio AM/FM, dentre outros.
As últimas de suas modificações ocorreram em 1983, quando a picape ganhou dois faróis retangulares de cada lado (antes era apenas um), e em 1985, quando a SS ganhou uma frente mais inclinada. A El Camino ainda ganhou a versão Royal Knight, e a edição especial SS Choo-Choo (foto). Choo-Choo era uma empresa de estilização que trabalhava com Chevrolets. Essa edição tinha a frente do Monte Carlo SS, e o motor mais potente era o V8 350 de 182 cv, embora o público comprasse mais versões menos potentes do V8 350. Ainda havia mais duas opções de motor V6. Ainda em 1985, a produção foi transferida para o México.
Em 1987, a El Camino parava de ser produzida. A picape média S10, lançada 3 anos antes, fazia mais sucesso que a El Camino e a GM não via mais o porquê de manter a El Camino em linha. Um fim bem discreto e injusto para uma picape que fizera muito sucesso. Pelo menos, muitas El Camino continuam ainda hoje como carros do dia-a-dia de muita gente, e ainda há muitos fãs espalhados pelo mundo. Infelizmente, tentativas recentes de trazer de volta a El Camino não deram certo, pois isso aconteceria através da Pontiac, e ela faliu. Mesmo com uma picape baseado em um sedã na Austrália (Holden Commodore, o nosso Omega), seria bom a Chevrolet recriar a El Camino. Tenho certeza que esse Ícone Americano, se relançado, faria tanto sucesso quanto à original.
Até a próxima!
Fontes:
Texto:
Muscle Car Club - Best Cars Web Site
Imagens:
AutoGaleria - Best Cars Web Site - Muscle Car Club - Classic Cars - Projeções & VT
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